Pç. Gen. Tibúrcio, Urca - Rio de Janeiro • 25 e 26 de maio de 2024
Durante a 2ª Semana Brasileira de Montanhismo, no dia 2 de Maio de 2015, ocorreu a 1ª premiação do Mosquetão de Ouro, onde a Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada (CBME) premiou os maiores feitos de montanhismo brasileiro do ano anterior.
O Mosquetão de Ouro é uma premiação inspirada no Piolet d’Or, uma premiação internacional que consagra os maiores feitos do montanhismo todos os anos. Seguindo esta linha, a CBME pretende com este prêmio incentive novas realizações na escalada brasileira e também fazer um reconhecimento a atletas e personalidades do meio da montanha do país.
A escolha das realizações leva em conta o envolvimento das pessoas indicadas com a evolução do montanhismo, o ineditismo de seu feito, o estilo, comprometimento e a ética, além do significado de cada feito dentro do esporte.
Como montanhismo abrange muitas práticas, o Mosquetão de Ouro foi dividido em 4 categorias:
– Montanhismo: Envolve trilhas, travessias e alta montanha
– Escalada tradicional: Conquista de vias de parede, repetições de vias longas e desafiadoras
– Escalada Esportiva: Vias de dificuldade, Boulder e campeonatos
– Montanhismo e sociedade: Envolvimento de uma pessoa com a comunidade escaladora, realizações de projetos sociais e culturais do montanhismo, trabalhos de conservacionismo, engajamento em prol de políticas para o desenvolvimento do montanhismo brasileiro.
Com base nestes fundamentos, os clubes, associações e federações de montanhismo realizaram uma pré seleção com base nas realizações do ano de 2014. Estes feitos foram então colocados em votação na internet. As federações tiveram também o direito a um voto e o último voto foi dado por uma comissão de montanhistas consagrados que atuaram como um júri.
Vejamos então os vencedores:
Categoria montanhismo: Pedro Hauck e Maximo Kausch
Pedro Hauck e Maximo Kausch, que moram em Curitiba PR, levaram o prêmio por terem finalizado em 2014 a escalada de todas as montanhas acima de 6 mil metros na Bolívia. Este projeto, bastante interessante, foi apenas realizado pela dupla e também pelo montanhista equatoriano Santiago Quintero. A dificuldade deste projeto se deu pelo fato de que são 14 montanhas e também por que a cartografia oficial da Bolívia é ainda bastante primitiva e não havia uma lista oficial das montanhas mais altas do país. A dupla então realizou uma pesquisa com dados da NASA e em campo confirmaram que uma das montanhas, o Capurata, que era tida como 5 mil, era na verdade um 6008, contribuindo para o conhecimento da geografia dos Andes. Em todas as expedições ao país vizinho, a dupla foi num estilo independente e autônomo, sempre indo à Bolívia de carro, realizando difíceis aproximações 4×4 sem guias, sem apoio logístico e sem informações, tendo que em muitas montanhas descobrir as rotas. Em diversos destes cumes eles foram os primeiros brasileiros a realizar a ascensão. Valeu o espírito da exploração e autonomia num projeto que promete ser um “grande slam” andino
(veja mais aqui).
Categoria Escalada Tradicional: Lucas Marques e Sérgio Ricardo
Nesta categoria a realização de Lucas Marques e Sérgio Ricardo que moram na Serra do Cipó – MG foi a escolhida pela repetição da mítica via Place of Happiness na Pedra Riscada, no norte de Minas. Esta escalada teve grande impacto primeiramente porque é a via mais difícil do maior pico rochoso do Brasil, a Pedra Riscada. Depois por que se trata de uma via de parede de 900 metros de altura, com características de uma via esportiva, pois em diversos trechos ela tem dificuldade de até 9º grau em seguida pelo significado histórico desta via, aberta pelo lendário escalador alemão Stefan Glovacz com o paranaense Edmilson Padilha e outros monstros da escalada em 2009 e ao fato de ser uma das mais difíceis e comprometedoras da América do Sul. O fato incrível desta repetição é que a dupla mineira realizou esta escalada extrema em apenas 10 horas de escalada! (veja mais aqui).
Categoria Escalada esportiva: Felipe Camargo
Felipe Camargo, de São José do Rio Preto, – SP, já é um escalador consagrado que rompeu todas as marcas da escalada esportiva brasileira e sem dúvida já faz parte da história. Sua maior realização de 2014, é também uma realização da escalada brasileira que puxou os números para cima, pois neste ano ele realizou a primeira escalada de um Boulder V15 no Brasil, o Boulder Fortaleza localizado em Ubatuba, SP. O Boulder Fortaleza não só é o Boulder mais difícil do país como de todas América Latina. Um feito digno de premiação pela característica atlética, ineditismo e ter elevado o grau da escalada brasileira (veja mais aqui).
Categoria Montanhismo e Sociedade: Silvério Nery
Silvério Nery de São Paulo – SP, recebeu o prêmio em reconhecimento por seu trabalho de anos na organização e representatividade no montanhismo brasileiro. Silvério foi o fundador da Federação de montanhismo do Estado de São Paulo em 2002 e também da Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada em 2004 até o ano de 2014. Durante todos estes anos esteve participando de inúmeras reuniões defendendo o interesse da comunidade de montanha. Na luta pelo acesso nos Parques Nacionais, na busca da manutenção da autonomia desportiva representada pela ameaça de leis que cerceavam nossa liberdade em Brasília. Foi durante muito tempo criticado, mas é inegável o fato de que deixou como legado as federações e sua estrutura representativa que são muito importantes tanto na luta pelos direitos dos montanhistas, como na realização de eventos, como as aberturas de temporada, as Semanas do Montanhismo, Seminário de Mínimo Impacto e até mesmo o Prêmio Mosquetão de Ouro, que certamente é um prêmio que veio para ficar (veja mais aqui).
Fonte: AltaMontanha